Material pode tornar a regeneração de tecidos ósseos mais eficiente
Por Aline Naoe
15/03/2012 Lesões ósseas muito grandes não apresentam a possibilidade de recuperação pelo crescimento natural do tecido, exigindo a colocação de um enxerto. O autoenxerto, ou seja, um enxerto retirado da própria pessoa, é considerado a melhor estratégia por não haver rejeição do organismo. No entanto, a pequena quantidade de material que pode ser removida do paciente e as complicações pós-cirúrgicas limitam o uso deste tratamento e promovem maior uso de enxertos sintéticos. Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um produto que representa uma alternativa aos tratamentos atuais, uma preparação à base de biosilicato chamada de scaffolds, que pode ser mais eficaz que os enxertos utilizados hoje na recuperação de defeitos ósseos. “Devido à elevada bioatividade do biosilicato, comprovadamente superior à de materiais disponíveis no mercado, os scaffolds produzidos a partir desse material deverão ser capazes de se ligar ao tecido ósseo e a cartilagens e promover sua regeneração de forma mais rápida e eficiente”, afirma Ana Candida Rodrigues, pesquisadora do LaMaV - Laboratório de Materiais Vítreos, da UFSCar, e coordenadora do projeto que resultou no produto. Segundo Rodrigues, o interesse no biosilicato, um material obtido por um tratamento especial do vidro, surgiu após sua utilização no tratamento da hipersensibilidade dos dentes. Na forma de pó, esse material é incorporado nas pastas de dente e cumpre a função de preencher os microcanais existentes na parte interna do dente durante a escovação, fechando esses canais e eliminando a hipersensibilidade. “Imaginamos que o biosilicato pudesse atuar de forma efetiva também na regeneração óssea”, relata. Segundo a pesquisadora, esse material ainda não tinha sido utilizado no tratamento de lesões ósseas e poderia ser utilizado no preenchimento de cavidades, como ocorre, por exemplo, após a remoção de tumores ósseos. Diversos testes in vitro e in vivo com os scaffolds de biosilicato já foram realizados com sucesso. O produto desenvolvido resultou na patente “Suspensões para preparação de enxertos ósseos (scaffolds) à base de biosilicato, enxertos ósseos obtidos e processo de obtenção dos mesmos” e a próxima etapa será a realização de testes clínicos. Segundo Murilo Crovaceos, que está desenvolvendo os scaffolds em sua pesquisa de doutorado, sob a orientação de Rodrigues, atualmente estão sendo realizados estudos para tentar maximizar a resistência mecânica do produto e poder ampliar sua utilização. Os scaffolds podem interessar a empresas da área médica e odontológica, em especial empresas produtoras de implantes. A pesquisa contou com a participação de pesquisadores do Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar e da Escola de Engenharia de São Carlos, da USP. |